ENTREVISTA COM LAURA WIBBERDING - PARTE 2

Muitos já a conhecem, devido a coluna de nossa página "TERÇAS COM LAURA", e hoje temos a oportunidade de apresentar a segunda parte da entrevista a Laura Wibberding do The Other Adevntist Home  mediada por Rafael Sanzio do Pah.dot .

Laura Wibberding é Professora Adjunta no Pacific Union College, uma das Faculdades Adventista nos Estados Unidos. Laura leciona aulas sobre História da Igreja no departamento de Teologia.

Laura tem um mestrado em Religião pelo Seminário Teológico Adventista da Universidade Andrews, com ênfase em Históriada Igreja. A verdade é que ela esta realmente apaixonada por histórias e contar histórias, e amaa história porque há muitas histórias para contar. Como se vê, ela também tem opiniões sobrea igreja e, por isso, escreve no seu blog The Other Adventist Home, de onde tiramos as postagens que intitula a sua coluna aqui em nossa página: Terças com Laura.


Segue agora a entrevista com nossa querida escritora Laura Wibberding. O diálogo mediado pelo Rafael Sanzio encontra-se em letras maiúsculas.

ORDENAÇÃO DE MULHERES

CONHECEMOS SEUS ARTIGOS QUANDO VOCÊ RESPONDEU A UMA SENHORA IDOSA SOBRE A CRISE DE ORDENAÇÃO DE MULHERES. VOCÊ PODERIA NOS DIZER SUA POSIÇÃO SOBRE ISSO?

Penso que a nossa crise atual é realmente uma oportunidade. É doloroso, não concordarmos, e definitivamente acredito que devemos capacitar as mulheres e ouvi-las, como iguais em Cristo. Esse conflito é uma oportunidade para impulsionar uma melhor prática em nossa igreja. É também uma oportunidade de testar nosso amor um pelo outro. Nos primeiros séculos do cristianismo, os crentes tiveram que enfrentar vizinhos que os queriam jogados aos leões. Hoje, lidamos apenas com pessoas que nos falam mal pela Internet ou votam contra nossa legitimidade em comitês. Pode ser feio, sim, mas a mesma graça que os primeiros cristãos aproveitaram também existe para nós. Podemos amar nossos inimigos? Podemos valorizá-los da maneira que Deus faz? Se não podemos amar as pessoas que se opõem a nós, nunca podemos "vencer" o argumento. Não podemos curar os males da igreja se permitirmos que mais ódio cresça nela. Eu não acho que devemos recuar no empoderamento das mulheres. Mas acho que podemos seguir em frente com amor e acredito que iremos.

VOCÊ CONHECE A DRA. SANDRA ROBERTS? COMO FOI A REAÇÃO DOS MEMBROS QUANDO ELA FOI ELEITA PRESIDENTA DA ASSOCIAÇÃO DO SUDESTE DA CALIFÓRNIA (SOUTHERN CALIFORNIA CONFERENCE)? VOCÊ CONHECE A PRA. TEREZINHA BARBALHO, PASTORA BRASILEIRA ORDENADA AO MINISTÉRIO PASTORAL HÁ ALGUNS MESES? PARTE DOS BRASILEIROS FICOU ENCANTADOS AO VÊ-LA ORDENADA COMO PASTORA; POR OUTRO LADO, FOI ALGO SURPREENDENTE PARA NOSSO POVO DA AMÉRICA DO SUL. VOCÊ CONHECE A OPINIÃO DA ASSOCIAÇÃO GERAL (AG) SOBRE ISSO? 

Eu vi a Dra. Sandra Roberts uma vez quando ela estava aqui no campus a fins administrativos. Eu era uma fã total, então duvido que isso conte como "conhecê-la". Eu não estava na Califórnia quando ela foi eleita pela primeira vez, mas os adventistas progressistas nos EUA ouviram sobre isso e ficaram animados, é claro. Acho que a Associação dela está indo bem e ainda emocionada por tê-la. 

Eu não sabia sobre a Pra. Terezinha Barbalho, mas é uma notícia maravilhosa que ela está servindo.

Quanto à opinião da Associação Geral, não tenho nenhuma conexão ou perpectiva especial, mas parece, pelo seu comportamento, que nosso presidente da AG desaprova as mulheres em toda liderança espiritual, não apenas no ministério pastoral ordenado. Antes desta década, parecia que a maioria dos líderes da AG apoiava mulheres no ministério, mas a presidência de Ted Wilson está levando mais conservadores neste ponto para o centro.

A SPECTRUM INFORMOU SOBRE A DECISÃO DE MUITOS MINISTROS ORDENADOS MUDANDO PARA CREDENCIAL DE COMISSIONADOS E O RESULTADO FINAL. COMO VOCÊ VIU ESSA DECISÃO? E A DECISÃO DA UNIÃO EM MANTER A DECISÃO DE ORDENAÇÃO DE MULHERES?
Tenho o prazer de viver em uma União que ordena mulheres, não importa o voto de 2015 (que, aliás, na verdade não ordenou mulheres contra a política da igreja - até agora em nosso livro de políticas, não é proibido). Acredito que estamos vendo um conflito entre as Uniões e a AG, não uma "rebelião". As Uniões foram criados para proteger as Associações locais e a AG, para que toda a tomada de decisões não fosse tomada por pessoas que não estavam próximas das igrejas e membros afetados por essas escolhas. Então eu acredito que eles estão fazendo o trabalho deles.

O verdadeiro problema é que não temos um órgão em nossas políticas para arbitrar um conflito como esse. Nos últimos Concílios Anuais, vimos a liderança da AG tentar criar políticas para punir uma União "rebelde". Mas não há nada que nos ajude a resolver um desacordo legítimo. Se a AG deveria ser o juiz, ele não pode ser um dos dois reclamantes em um caso. Portanto, precisamos de um órgão independente que possa realmente julgar entre eles. Não temos um e continuamos assim.

ALÉM DISSO, SABEMOS QUE VOCÊ PREPAROU UM MATERIAL PARA A AG DIRIGIDO AO PRESIDENTE A ESSE RESPEITO. POR QUE VOCÊ ESTÁ ENVOLVIDA NISSO?
Em 2012, quando as duas Uniões dos EUA votaram pela primeira vez para ordenar sem restrições de gênero, um amigo que estava mais próximo dos oficiais da AC me pediu para ajudar a preparar o material para compartilhar com eles. Estávamos tentando conversar com as pessoas antes do Concílio Anual daquele ano, quando elas votariam em um documento condenando as Uniões. Como você sabe, eles votaram de qualquer maneira. Mas nós tentamos. Meu papel era como assistente de pesquisa e um pouco de escritora fantasma também. Na verdade, não tenho voz ou influência na liderança da igreja.

Depois disso, decidi me concentrar no lugar em que poderia fazer a diferença, o que ajudava os adventistas progressistas a se lembrar de que pertenciam tanto quanto os conservadores. É fácil sentir que nossa igreja não nos valoriza quando os votos são assim, mas o adventismo não pertence às pessoas nas salas de diretoria tanto quanto às pessoas nos bancos e nas comunidades. Se formos comunidades vibrantes e compassivas, isso terá um impacto muito maior do que aqueles votos longínquos.

CONCÍLIO ANUAL DE 2019

NOS ANOS ANTERIORES, VOCÊ DEU IDEIAS SOBRE O QUE PODERIA ACONTECER NA AGENDA DO CONCÍLIO ANUAL. QUAL A SUA PERSPECTIVA  PARA O CONCÍLIO DE 2019?

Admito que não tive tanto contato com os preparativos para o Concílio Anual  deste ano (2019). Eu acho que posso estar um pouco esgotada. Além disso, não ouvimos falar de nenhuma medida controversa sendo votada neste momento. Ou o AC está se saindo melhor em guardar segredos [ela estava certa, souberam guardar segredos até o último momento] ou a estratégia está mudando. O fato de que haverá uma Assembleia da AC em 2020 e a liderança precisa ser reeleita provavelmente tem algum efeito, uma vez que fazer um tumulto não é uma boa estratégia de campanha. Espero que minha agenda de certo para que eu possa assistir à transmissão ao vivo (supondo que eles façam uma) e twittar.

ABORTO

UM DOS ASSUNTOS SERÁ O ABORTO [OU SERIA, JÁ QUE JÁ FOI VOTADO NO AC DE 2019]. EM INIDIANAPOLIS 2020, VOCÊ PARTICIPARÁ?

Nunca participei de uma Assembleia da AG e espero que seja tão dependente de nossos maravilhosos jornalistas da Spectrum e Adventist Today como todos os outros. 
Eu tenho uma preocupação com essa declaração esperada sobre o aborto. Não sei, é claro, qual será o conteúdo, mas receio que venha de pessoas que pensam que nossas diretrizes dos anos 90 são permissivas demais. O tópico se tornou realmente um extremo na política dos EUA (nos dois sentidos), e não parece um bom momento para poder considerar isso desapaixonadamente.
Meu próprio sentimento sobre o aborto é que deveríamos dizer menos e não mais. Acima de tudo, não devemos fingir que este é um tópico simples. As pessoas que lidam com gravidezes indesejadas, procuradas, mas não viáveis ​​ou medicamente perigosas carregam um fardo pesado o suficiente e sabem muito melhor do que nós. Não há nada que a igreja possa dizer que o torne mais simples para eles. O melhor papel para a igreja é mostrar-lhes compaixão e amor enquanto eles lidam com isso.

MEMBRXS LGBTQIA+

OS MEMBROS LGBTQIA+ TÊM SIDO OBJETO DE MUITAS DISCUSSÕES NO PAÍS, ESPECIALMENTE COM O ÚLTIMO DISCURSO DE NOSSO NOVO PRESIDENTE. A UNIÃO SUECA FEZ RECENTEMENTE UMA DECLARAÇÃO SOBRE A "QUESTÃO". PARTICULARMENTE, AJUDAMOS MUITOS MEMBROS LGBTQIA+ DA IASD A CURAR SUAS CICATRIZES DEPOIS QUE MUITOS RELATOS DE HUMILHAÇÃO NAS IGREJAS.
Estou muito triste que a igreja, como um todo, não tenha tentado aprender sobre a comunidade LGBTQIA+, mas, em vez disso, procuram mudá-los ou excluí-los. Acho que o mundo precisa de tempo para entender essa parte recém-visível de nossa sociedade, e a igreja faria melhor em se dessem-se tempo para aprender, tempo para ver, antes de fazer o que pensa.

Além do mais, conheci pessoas fiéis LGBTQIA+ e vejo sua humanidade e genuinidade. É terrível que eles estejam sendo excluídos, não apenas porque merecem melhor, mas também porque estamos perdendo o dom de sua comunhão. Fico feliz em saber que sua comunidade online é uma exceção a isso. 

O QUE VOCÊ ACHA DE SER ADVENTISTA E LGBTQIA+? ELES SÃO CAPAZES DE CUMPRIR SEUS DEVERES NA A COM CARGOS?

Minha convicção pessoal é que os adventistas LGBTQIA+ devem ser membros como todos os outros. Percebo que muitas pessoas ainda não estão prontas para aceitar isso, e não será o caso em toda a denominação por algum tempo (mas espero que eventualmente). Portanto, apoio as congregações que podem ser espaços seguros para esses crentes nesse meio tempo.

SEUS FÃS

EMBORA TENHAMOS O PRAZER DE VÊ-LA LECIONANDO NA PACIFIC UNION COLEGE, GRANDE PARTE DEO SEU PÚBLICO NO BRASIL ESTÁ PDINDO POR SEUS ARTIGOS. ALÉM DISSO, SUAS PALAVRAS TÊM AJUDADO MUITAS PESSOAS NO BRASIL. NO ENTANTO, VOCÊ TEM ALGUMA INTENÇÃO DE VOLTAR COM O BLOG?
Vocês definitivamente me inspiraram a blogar novamente. Eu farei o meu melhor.
TEMOS MUITAS CRÍTICAS POSITIVAS SOBRE SEUS ARTIGOS EM NOSSOS CANAIS. FABIANA E HENRIQUE SÃO NOSSOS LEITORES QUE RELATAM MOMENTOS DE EMOÇÃO EM SUAS PALAVRAS. NO BRASIL, HÁ TANTOS MAL-ENTENDIDOS SOBRE RELIGIOSIDADE E INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA.

Não sei descrever como estou honrada em saber que meu trabalho impactou pessoas que nunca conheci. Por favor, diga a Fabiana e Henrique que estou muito agradecida por poder abençoá-los. Vocês todos me fazem querer fazer mais.

PARA FINALIZAR, DIGA-NOS ALGO QUE CONSIDERA IMPORTANTE...

Acredito que os adventistas podem ser uma força poderosa em nossos dias, abordando as reais necessidades e questões de nossas culturas. Mas, para fazer isso, temos que sair da câmara de eco e de responder apenas a nossas próprias perguntas, ou às que as pessoas fizeram há 50 anos. Acredito que podemos reivindicar o caráter de Deus nos últimos dias, mas apenas se modelarmos sua compaixão em vez de tentar modelar a perfeição legalista. 
Eu não sou uma administradora da igreja e não quero ser. Gerir uma denominação é valioso, mas não é o trabalho que Jesus criou para sua igreja. O verdadeiro poder em nossa fé está em nossas comunidades, o verdadeiro trabalho é ser um amigo, um membro da família, um aliado, um ajudador. O coração do adventismo não é o que acontece nos comitês, mesmo aqueles de que realmente precisamos, é o que acontece quando encontramos nossos vizinhos. Isso significa que o coração do adventismo está em suas mãos. Isso significa que você e eu escolhemos o que é a igreja e como ela age. 
Para meus irmãos e irmãs no Brasil, espero que você conheça seu poder e o use. Sou grata pela vida vocês.

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